Tudo se iniciou em 02 de maio de 2008, quando chegou aos
cinemas aquele que seria o ponto de partida para um dos projetos
cinematográficos mais ambiciosos de todos os tempos: estrelado por Robert
Downey Jr., o Marvel Studios lançava o seu primeiro filme, “Homem de Ferro”,
centrado na história do alter ego do multibiolionário Tony Stark, um dos
personagens mais antigos da editora de quadrinhos, embora não configurasse
entre os mais populares. Com uma arrebatadora campanha de marketing, uma
produção de alta qualidade e ainda de quebra o carisma de seu intérprete, o
longa superou todas as expectativas e arrecadou mais de 550 milhões em
bilheteria. A empreitada havia dado certo.
Ainda no mesmo ano, foi lançada a versão da Marvel de seu
Gigante Esmeralda no bom “O Incrível Hulk”. Arrecadando também boas cifras,
vieram em seu encalço “Homem de Ferro 2” (2010), “Thor” (2011) e “Capitão
América – O Primeiro Vingador” (2011). Com seus [super]heróis devidamente
apresentados e muito bem aceitos pelo público e crítica, eis que em abril de
2012 a grande catarse estreou em milhares de salas de cinema muito afora: “Os
Vingadores”, uma megaprodução nunca antes vista para filmes do gênero e que,
acima de tudo, veio para consolidar a força de mercado dos estúdios da Marvel.
A reunião de todos esses caracteres se transformou na terceira maior bilheteria
de todos os tempos e encerrou a chamada Fase 1, cujos filmes tinham o objetivo
maior de apresentar as origens desses heróis e posteriormente juntá-los.
E é novamente com o irreverente empresário Tony Stark que a
Marvel decidiu dar partida ao início da segunda fase, referida como a “estrada
para os próximos vingadores”. A escolha não poderia ser outra, já que, entre
todos os personagens do universo explorado nas telonas, ele é o favorito da
audiência por seu paradoxal estilo de vida e senso de justiça, além do sarcasmo
inteligente e direto. Trata-se de “Homem de Ferro 3”, cuja direção agora fica a
cargo de Shane Black, responsável pelos roteiros da franquia de sucesso
“Máquina Mortífera”.
Mas o que esta fase pode trazer de diferente daquilo que já
não tenha sido explorado antes? Bem, através dos trailers, teasers e comerciais
de tv, fica evidente que o que temos agora é uma grande mudança no tom da
narrativa. Enquanto os dois primeiros filmes da franquia prezavam por situações
que davam um suporte humorado à produção, este parece ser mais sombrio e se
focar mais no homem Tony Stark do que no herói Homem de Ferro. Pelos trailers,
principalmente, algumas imagens e a trilha sonora obscura de Brian Tyler levam
a crer que o Vingador Dourado passará por provações e desafios antes nunca
imaginados, a ponto de perder todo seu reino e, o mais grave, a pessoa que mais
ama no mundo, Peppers Potts (Gwyneth Paltrow). Fracassado e sozinho, terá de
encontrar em si mesmo forças para se reerguer e enfrentar um temido vilão.
A sinopse já divulgada, na verdade, desnorteia mais que
esclarece. O que sabemos de fato é que a trama é baseada no arco de quadrinhos
chamado Extremis, responsável pelo mais recente reboot do herói e que o deixou
mais interessante e atual ao nosso tempo. Com roteiro de Warren Ellis e arte magistral
de Adi Granov, a narrativa gira em torno do vírus tecnológico que lhe dá nome,
que ao mesmo tempo é uma ameaça para Stark e sua salvação, configurando-se
assim um complexo paradoxo para o cientista. Entretanto, não foi nenhuma
surpresa para os fãs da nona arte o fato de o terceiro capítulo ser baseado
nesse arco, uma vez que diversos elementos já haviam sido referidos nas
películas anteriores. Principalmente na primeira, onde diálogos e situações foram
adaptados para as telas. Na segunda, uma tomada que mostra várias armaduras
também é uma cena adaptada dos quadrinhos. E, finalmente, em “Os Vingadores”,
quando Stark usa de um bracelete para acionar peças de sua armadura.
Aliás, como todos esses filmes são intercalados, a
tecnologia usada por Tony em “Homem de Ferro 3” nada mais é que um aprimoramento
que o mesmo vinha fazendo nos episódios da primeira fase. Em um dos trailers,
mostra-se que o Cavaleiro de Ferro desenvolve um sistema capaz de chamar até
ele sua própria armadura, fato que leva a crer que tenha sido uma ferramenta
configurada entre os eventos finais de “Os Vingadores” e o inferno astral a ser
vivido por Stark, no universo cinematográfico da Marvel.
Entretanto, é a figura do vilão que causa maior frisson
entre os fãs. Segundo recente entrevista de Kevin Feige, presidente do Marvel
Studios, o público não gostaria de ver pela terceira vez uma luta de armaduras
entre o mocinho e o vilão. E, por isso, foi escolhido um dos mais enigmáticos e
simbólicos antagonistas de sua galeria, o Mandarim. Originário nas histórias
ainda dos anos 60, encontrou na magia a maneira de reaver tudo que lhe foi
tomado pelo sistema comunista chinês e assim viu sua crescente ascensão. É quem
estrela o primeiro longa-metragem animado do herói, “O Invencível Homem de
Ferro”. Porém, diferente dessas duas mídias, no cinema Stark pertence a um
panteão supertecnológico e tudo leva a crer que a adaptação de Mandarim seguirá
esse mesmo paradigma. Apesar da estreia iminente, ainda tudo é muito incerto;
mas pelos trailers se pode observar que o algoz, para atacar Stark, usa de
aparatos tecnológicos e não artifícios místicos.
Outro mistério é como a trama de Extremis estará ligada a
Mandarim. Mas a escolha de Ben Kingsley para o papel dá a dimensão da
importância e peso que a Marvel deseja aferir a seus vilões. Ator brilhante e de
currículo extenso e eclético, Kingsley talvez represente o conserto do maior
ponto fraco deste projeto em sua totalidade: a caracterização de seus
antagonistas. Excluindo o Loki de Tom Hiddleston – em “Thor” e “Os Vingadores”
– e o Abominável de Tim Roth – em “O Incrível Hulk” –, todos esses personagens
foram apresentados de forma superficial e/ou caricata.
Em “Homem de Ferro 2”, Chicote Negro (Michey Roucke)
interpreta o mais fraco de todos eles, que de tão inexpressivo e superficial
nem pode receber a alcunha de “vilão”; era somente um inimigo, nada mais que
isso. Tanto que meses depois do lançamento do filme, o ator veio a público
dizer que a Jon Favreau – diretor do longa – “faltaram colhões” para não se
submeter às ordens do estúdio e de fato fazer um bom filme. Já na fita de
Capitão América, a caricatura e a péssima maquiagem de Hugo Weaving fizeram de
seu Caveira Vermelha uma piada de mau gosto: faltou tanto carisma e densidade ao
personagem, que o mesmo se esvaziou na história e o confronto final soou
patético, mesmo neste que considero o melhor filme solo de um personagem da
Marvel.
E, finalmente, o que dizer dos Chitauri, raça alienígena
aliada de Loki em “Os Vingadores”? Eles abriram o filme com uma sequência que prometia
uma grande parceria, entretanto no decorrer das ações foram esquecidos pelo
roteiro, sumiram e entraram na última meia hora para simplesmente serem
aniquilados. Nossa, que grande função tiveram! É possível que esses
aproveitamentos deficientes sejam resultado do foco que os roteiros tinham nos
protagonistas, para que o público tivesse uma dimensão ampla de suas personalidades,
ideologias e origens. Com isso houve desperdícios em trama e atores talentosos,
e por essa causa Kingsley pode ser a grande chance de se repararem tais equívocos.
Com todos acertos e eventuais erros, “Homem de Ferro 3”
previsivelmente já é considerado um grande sucesso mundial de bilheteria, haja
vista sua campanha milionária em todas as mídias imagináveis, sendo verificado
inclusive um grande aumento da venda de produtos e licenciados (de novas
tiragens de DVD’s e Blu-ray’s dos filmes anteriores a bonecos raros). Logicamente,
as sequências de combates e os efeitos especiais já reservam a pipoca. Mesmo
assim, representa um enorme desafio para a Marvel – que não será o de testar a
sua credibilidade e poder de qualidade, mas sim se o tom da narrativa vai ou
não satisfazer os espectadores em geral. Assim como aconteceu com a trilogia de
Batman dirigida por Nolan, parece que mais do que nunca se pretende provar que
filmes de super-heróis não são historinhas para crianças ou para um público
alienado, e que os conceitos trabalhados na cultura nerd são muito mais
profundos do que se imagina.
Ainda na esteira de “Homem de Ferro 3”, complementarão a
Fase 2 os já anunciados “Thor 2 – Mundo Sombrio” (com estreia prevista para
08.11.2013), “Capitan American – The Winter Solder” (ainda sem título oficial
em português, com estreia prevista para 11.04.2014) e “Os Vingadores 2” (com
estreia prevista para 01.05.2015). Segundo seus diretores, essas produções
também focarão em aspectos mais sombrios e intimistas de seus personagens. E
ainda haverá “Os Guardiões da Galáxia” (com estreia prevista para 08.08.2014),
o primeiro longa a contemplar o nicho cósmico da editora, cuja trama ainda é
enigmática, não se sabendo se Thanos de fato será o grande vilão [por conta da
cena pós-crédito em “Os Vingadores”].
A estreia de “Homem de Ferro 3” nos cinemas brasileiros
acontecerá na próxima sexta-feira, dia 26.04.2013, com sessões de pré-estreias
em salas selecionadas. Nos demais mercados, incluindo o americano, as estreias
passarão a ser uma semana depois, em 01.05.2013.
E, então, o que você espera desta fase? Pelo menos, a
diversão já está mais que garantida!
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