Desagradando talvez uma audiência que esperava por sangue e crânios dilacerados, o filme se mostra um entretenimento com história coerente e capaz de tramitar em diversos gêneros, como suspense, ação, drama e até humor
A princípio, qualquer pessoa pode ser levada a imaginar que
“Guerra Mundial Z” se trata de mais uma produção oportunista que se agarrou ao
filão dos zumbis, os quais voltaram aos holofotes em 2010, quando a série
televisiva “The Walking Dead” estreou com altos índices e a partir de então vem
se consagrando e tornando referência para o gênero. Porém, já com menos de 10
minutos de exibição, a película mostra a que veio: tentar elevar a mitologia
dos mortos-vivos a um novo nível na sétima arte.
Dirigido por Marc Foster, o longa parte de uma premissa um
tanto batida: uma pandemia, cuja origem é desconhecida, se espalha e traz caos
a toda população mundial. Infectado, o indivíduo leva apenas 12 segundos para
se tornar raivoso e detentor de um único desejo – a fome insaciável por carne
humana saudável. Já com cidades inteiras tombadas, Gerry Lane (Brad Pitt), um
ex-militar, é obrigado a entrar em campo para buscar uma possível cura ao
problema, caso contrário sua família não receberá mais asilo. Até que, graças a
observações feitas em diversos ataques, ele acha uma solução. Mas, para tal,
terá de atravessar o globo infestado pela doença.
O que distingue “Guerra Mundial Z” de outras películas do
mesmo tocante é o foco: o que se privilegia são as relações humanas e o
espírito de sobrevivência, e não precisamente as aberrações. A prova disso é
que sua fisionomia só é apresentada com mais detalhes no último [e melhor] ato,
pois até então câmeras nervosas, filmagens distantes e ambientes escuros
anuviavam a visão do espectador. É claro que existem aquelas sequências de fuga
em diferentes momentos, cuja intenção maior é promover o suspense e a ação que
dar alguma dramaticidade à história.
Como todo blockbuster que se preze, o roteiro apresenta
situações mal estruturadas – como a sequência irreal de fatos na queda de um
avião –, mas que não chegam a prejudicar tanto a totalidade da obra. E, por
falar em sequências, todas elas são incríveis! Os mais de US$ 200 milhões de
orçamento foram investidos em efeitos de primeira qualidade e na medida certa.
Apesar da magnitude dos episódios narrados, os efeitos não soam exagerados
tampouco desnecessários. O 3D fica devendo em alguns aspectos, mas cria uma
atmosfera interessante de tensão por causa da proximidade, um recurso bastante explorado.
Quem senta nas primeiras fileiras talvez aproveite melhor o programa.
A linguagem é outro grande mérito, devido à opção pela
objetividade. Sem meias palavras ou tantos porquês, as informações chegam
rápido ao público, que pode perceber na trama temas como globalização, questões
ambientais, o poder midiático, política internacional, entre outros. Mesmo de
maneira rasa, o filme cutuca e de alguma forma reflete acerca desses tópicos
tão atuais.
Quanto ao elenco, todos estão igualmente bem em seus papéis.
Lógico que o destaque cai sobre Pitt, que não decepciona mas também não chega a
roubar as cenas. Apenas uma boa atuação. Mesmo fazendo a linha do “exército de
um homem só”, acertaram em colocar personagens secundários que também chamaram
para si a responsabilidade junto o herói. Um bom exemplo é o da atriz Lucy
Aharish, que interpreta uma jovem soldada palestina. Na cena em que Lane cuida
de seus ferimentos oriundos de uma mutilação para não se infectar, o grau de
realismo é tanto que podemos sentir a dor da personagem.
Desagradando talvez uma audiência que esperava por sangue e
crânios dilacerados, o filme se mostra um entretenimento com história coerente
e capaz de tramitar em diversos gêneros, como suspense, ação, drama e até
humor. E por que elevou as obras sobre zumbis? Embora também lançando mão de
alguns clichês, tira, assim como “Meu Namorado É Um Zumbi”, um pouco a
mitologia dos mortos-vivos de um acomodado lugar-comum, tanto explorado nos
anos 1980, a fim de modernizá-la e colocar nela elementos atuais, e assim
humanizando (apesar de parecer paradoxal) a situação. É o que “The Walking
Dead” vem se propondo a fazer, só que em outra mídia. Quem curtiu “Eu Sou A
Lenda” e “Guerra dos Mundos” possivelmente vai gostar também desta obra.
Por causa da boa aceitação, já foi dado sinal verde para a
continuação, que se transformará mais tarde numa trilogia. Bem típico de
Hollywood mesmo!
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