Geralmente adaptada para obras nem sempre de fácil acesso a
crianças e adolescentes, a mitologia grega encontrou na saga Percy Jackson
& Os Olimpianos, escrita por Rick Riordan, o lugar perfeito para atrair
justamente esse público e começar a familiarizá-lo a personagens tão
importantes da literatura ocidental, como Ulisses e Aquiles. Adicionando
ingredientes – que, verdade seja dita, em muitas vezes aludem aos da série
Harry Potter, fenômeno literário anterior –, a jornada do garoto semideus filho
de Poseidon rapidamente caiu nas graças do público e se tornou um grande
sucesso editorial. Daí para o cinema foi um pulo.
Três anos após uma estreia que não agradou a todos, mas que
rendeu bilheteria mundial suficiente para uma continuação, chega a adaptação do
segundo livro da série aos cinemas, intitulado “Percy Jackson e O Mar de
Monstros”. Na história, o protagonista
meio-sangue (Logan Lerman) e seus inseparáveis amigos Annabeth Chase (Alexandra
Daddario) e Grover Underwood (Brandon T. Jackson) se unem novamente a fim de
salvarem de um envenenamento a árvore de Thalia, a guardiã encantada que por
sua vez protege de todos os perigos o Acampamento Meio-Sangue, e conseguirem
para tanto o Velocino de Ouro. Ao trio juntam-se a guerreira Clarisse La Rue
(Leven Rambin) e o ciclope Tyson (Douglas Smith) – que passam a lutar contra a
tirania de Luke Castellan (Jack Abel), cujo intento é também conseguir o
Velocino, só que para um fim apocalíptico: ressuscitar o grande titã Cronos.
O diretor escolhido desta foi Thor Freudenthal, que regeu
filmes conhecidos da galerinha, como “Diário de um Banana” (2010). Aqui ele não
decepciona, mas não oferece nada muito além do que já havia sido transmitido
anteriormente: uma história de fácil compreensão, com resoluções banais e um
tom ainda meio bobo. Tudo bem que a série literária em si não se propõe a
questionar ou debater conceitos filosóficos e parecer mais adulta. Entretanto,
para o cinema, que teoricamente abrange uma audiência maior, ele poderia ter
usado da fotografia e da trilha sonora para expressar, em algumas tomadas, uma
atmosfera um pouco mais sinistra. Afinal, quem não gosta – criança ou não – de
alguns momentos de tensão? Seus enquadramentos de câmera pouco contribuem para
se poderem visualizar emoções nos personagens, que foram preguiçosamente
explorados e seus vínculos não soam tão naturais.
Para os fãs, uma boa notícia: respeitou-se mais a fonte desta
vez e a adaptação se fez mais fiel. É verdade que muitos elementos foram
deixados de lado enquanto outros inseridos (como o confronto com Cronos), porém
grande parte deles estava presente. Mesmo assim, o roteiro de Scott Alexander e
Larry Karaszewski talvez desagrade a alguns leitores mais exigentes. Por conta
de um orçamento mais reduzido, o clímax da trama foi alterado e cenas
importantes contra o ciclope Polifemo ou Luke foram extraídas. Praticamente a
segunda metade foi abandonada ou sofreu profundas alterações, isso porque
demandaria grandes gastos com efeitos especiais, que inclusive não foram tão
trabalhados. Além disso, o comportamento da braba Clarisse foi se resfriando
durante a projeção – talvez a fim de se inserir uma lição de moral – e o
relacionamento entre Percy e seu meio-irmão Tyson nem de longe teve a amplitude
relatada no romance, o que criou uma certa superficialidade e o personagem mais
se destinou a ser um gancho.
Quanto aos atores, a maioria está melhor que no primeiro
filme. Embora neste não temos a presença de grandes astros hollywoodianos, Lerman
consegue levar bem o seu papel e se parece mais à vontade, afinal ele já
mostrou que é talentoso ao viver um personagem difícil em “As Vantagens de Ser
Invisível” (2012). Embora Grover não ganhe tanto destaque no filme como tem no
livro, é o responsável pelas tiradas de humor e situações engraçadas, uma
espécie de alívio cômico – é uma pena que o personagem só se resuma a isso. O
pior em cena continua sendo Jack Abel. Não que ele seja ruim, mas se percebe
uma por parte do roteiro uma responsabilidade por criar um antagonista raso,
inexpressivo, caricato e que para pior não consegue se desenvolver sob a tutela
do diretor.
Em suma, houve avanços e o filme está mais aprazível de se
ver que o primeiro. Todavia, ainda não foi desta vez que o olimpiano mais
famoso dos últimos tempos conseguiu êxito em uma adaptação cinematográfica à
sua altura, diferente do que ocorreu nas ótimas adaptações dos também dois
primeiros volumes para os quadrinhos – lançados no Brasil pela editora
Intríseca.
Nota: 7,0.